segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Professora supervisora do PIBID fala sobre ensino de História.

Reportagem de Micaela Orikasa na Folha de Londrina no dia 02/11/2012




Longe de ser o ''bicho de sete cabeças'' da Matemática e o ''monstro'' do Português, que são muitas vezes consideradas as disciplinas mais desafiantes pelos alunos, as aulas de História têm sido mais uma tarefa difícil para os professores, que buscam, além do ensino, inovar na didática e despertar o interesse da classe. 

Isso acontece porque a disciplina é tida com monótona por muitos estudantes, por ser baseada na narrativa do professor, em textos didáticos e (raramente) na transmissão de um filme histórico. 

Para a professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Márcia Elisa Teté Ramos, a questão de despertar o interesse do aluno para a disciplina não deve se limitar à metodologia tradicional. ''E sim a forma como o professor trabalha. Durante muito tempo, a História ficou marcada pela aula narrativa baseada mais em fatos, nomes e acontecimentos. Isso não vai interessar ninguém, porque predispõe o aluno a decorar. Por isso, o desafio hoje é romper com essa linha tradicional de ensino e trabalhar com outra vertente, que seria a construção do pensamento histórico. Hoje, a ideia é formar o cidadão com capacidade crítica, de interpretação e de análise'', aponta Márcia, graduada em História, especialista em Didática do Ensino e mestre e doutora em Educação, 

Mas como construir esse pensamento? Segundo Márcia, esses recursos didáticos não devem ser trabalhados apenas como confirmação do conteúdo abordado pelo professor, mas de uma forma semelhante ao trabalho de um historiador. ''Uma fonte, como um filme ou música, deve ser interpretada com questões de quem, como, por que e para quem eles foram feitos. Esse é o que o historiador faz e é assim que o professor vai ajudar o aluno a desenvolver o pensamento histórico e crítico'', explica. 

Ações paralelas 
E o desenvolvimento do ''pensar'' em História vai além de estudar o passado. Para fazer sentido ao aluno, a especialista defende que é preciso relacionar a problemática do presente. ''Por exemplo, no estudo da escravidão no Brasil, não adianta só estudar o passado, apesar de ser objeto de estudo da História. Ele tem que se rrelacionado à atualidade, com o objetivo dos alunos entenderem porque nosso país ainda é racista, preconceituoso'', afirma. 

Na prática, essa nova vertente de ensino se dá, basicamente, por duas ações paralelas. A primeira é preciso que o professor saiba qual é o conhecimento prévio do aluno e o real interesse dele pelo conteúdo a ser ensinado. Em segundo lugar, é tempo. 

''O professor deve ter tempo disponível para escolher o material e as fontes históricas nas quais ele irá trabalhar. São esses dois pontos que rompem o ensino de História tradicional e despertam o interesse do aluno'', ressalta Márcia, ao observar que essa prática está, aos poucos, sendo introduzida nas salas de aula e nos livros didáticos. ''ô uma mudança que está se processando. Os novos testes, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), as Olimpíadas de História e até o próprio vestibular de História da UEL, já tratam dessa nova vertente, com questões de análise de documentos históricos'', diz. 

Motivação 

A professora de História Elizabete Tomazini, que atua há 16 anos em sala de aula, é um exemplo de que é possível conquistar a atenção dos alunos com de simples recursos e um bom planejamento do conteúdo. 

Professora nas turmas de 7º e 9º ano da Escola Estadual Dr. Gabriel Carneiro Martins, na zona oeste de Londrina, Elizabete conta que os estudantes afirmam não gostar da disciplina, mas aprovam o ''jeito'' que ela dá aulas. ''Nunca fui conformada com o 'decoreba'. A História não pode ser vista só como o passado, mas ser um contraponto com o presente'', diz. 

Para colocar em prática essa teoria, a professora investe em atividades dinâmicas. ''Por exemplo, em uma aula de Brasil República, utilizei alguns trabalhos já realizados pela turma e eles tiveram que montar uma linha do tempo. A partir dos nomes que eles relacionaram, fiz uma ligação com os nomes das ruas de Londrina. Com isso, foram surgindo curiosidades e o conteúdo foi se ampliando'', explica Elizabete, que aproveita a hora atividade para pesquisar e planejar a aula. 

Além disso, Elizabete trabalha com documentos históricos, como um discurso de um presidente e trechos de filmes. ''O filme não pode ser uma mera ilustração. Ele deve ser usado para contextualizar questões atuais, porque nosso papel não é só ensinar a disciplina, mas trabalhar na formação do aluno, englobando, de uma maneira geral, o estudo da língua. Essa nova geração de alunos precisa ser motivada. Eles querem algo que os empolgue, que seja dinâmico'', ressalta.

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